Jovens do Norte e Nordeste entregam manifesto por justiça energética à liderança do G20, no Rio
Representantes da Aliança de Juventudes por Governança Energética, composta por dez organizações do Norte e Nordeste do Brasil, entregaram, ao representante oficial do Y20, Marcus Barão, uma carta-manifesto exigindo a inclusão das juventudes e de suas comunidades nas decisões sobre a transição energética. Durante a entrega do manifesto, houve uma intervenção poética de Norah Costa, artivista do Fórum Paraense de Juventudes (poesia ao final do texto).
O manifesto foi entregue na tarde de sábado, 16 de novembro, a Marcus Barão, representante do Y20, um dos grupos oficiais de engajamento do G20, responsável pela articulação das juventudes.
Barão dialogou com os 25 jovens ativistas: “Vou levar essa pauta comigo para os próximos encontros de que vou participar”, afirmou. “É a primeira vez que vejo juventudes pautando transição energética.” Garantiu.
O manifesto denúncia falhas estruturais no modelo energético brasileiro e reivindica uma governança que enfrente o racismo ambiental e as desigualdades históricas.
“Não podemos falar em transição energética sem colocar nossas comunidades no centro do debate. Os rios da Amazônia, as florestas e os territórios que chamamos de casa não são apenas recursos; eles são nossas vidas. Não aceitaremos que a ganância das petroleiras coloque em risco o futuro das nossas crianças e a existência das nossas culturas”, afirmou Natalia Mapuá, ativista socioambiental e diretora-executiva da COJOVEM.
O grupo também se posicionou contra a exploração de petróleo na Margem Equatorial, alertando para os graves riscos ambientais e sociais. “O desastre de 2019, que manchou as praias do Nordeste com óleo, mostrou o preço cruel da exploração de combustíveis fósseis. Nosso futuro não pode ser vendido ao petróleo”, destacou Sabrina Cabral, fundadora da Ruma. Ela também alertou sobre o impacto de usinas eólicas nas comunidades locais: “Esses projetos secam as águas, minam a saúde física e mental das pessoas e perpetuam desigualdades, tanto nas áreas rurais quanto nas periferias urbanas.”
“O apagão no Amapá em 2020 foi um grito de alerta: a Amazônia é tratada como um recurso, não como um lar. As fragilidades no nosso sistema energético não podem ser resolvidas com mais petróleo, mas com soluções sustentáveis e limpas, que fortaleçam nossos territórios e protejam nossas vidas”, declarou Paulo Cardoso, diretor-executivo do Coletivo Utopia Negra Amapaense.
A Aliança reafirmou seu lema: “Não há transição energética sem ouvir as comunidades, sem a percepção das juventudes e sem justiça! Estamos aqui para mostrar que há outro caminho possível. Nós, juventudes do Norte e Nordeste, temos soluções e queremos ser ouvidos. A transição energética justa só será possível com o protagonismo das comunidades, sem deixar ninguém para trás”, concluiu Flora Rodrigues, coordenadora da Rede Tumulto.
Sobre a Aliança
A Aliança de Juventudes por Governança Energética é uma iniciativa fundada pela Palmares Lab. Entre seus membros estão: Palmares Lab, Ruma, Rede Tumulto, Coletivo Utopia Negra Amapaense, Coletivo Miri, Greenpeace Belém, COJOVEM, Coletivo de Juventude Negra do CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará) e Fórum Paraense de Juventudes. Também apoiam o manifesto o Instituto Mapinguari, o Observatório do Marajó e o Observatório Latinoamericano de Geopolítica Energética.
POESIA (Norah Costa)
Nas veias abertas da América Latina
Latifúndios
Mineradoras
Hidrelétricas
De marco em marco eles nos zeram
Testam
Colonizam
Dizimam
Mercurizam
Perfuram
Alagam
Apagam
Logo nós os donos da energia
Palhaços
Fazemos o circo funcionar
Mas não provamos do pão
Ou melhor, do linhão
Excluídos de propósito das linhas de transmissão
Petróleo pra mim ou pro patrão?
Para o capital ou Marias e Joãos?
Não!
Não vamos deixar nos perfurarem com essas mãos
Que se enchem de sangue
Mas que no bolso está cheio de milhão.